sexta-feira, abril 14, 2017

PERDER A RAZÃO (À Perdre la Raison)























Que bom seria se os filmes ficassem mais tempo com a gente, que a memória fosse mais fácil de buscar as cenas. Vejo muitos filmes e com o tempo eles vão sumindo de meu HD cerebral. As lembranças começam a ficar escassas. E se os vemos em casa, a impressão que temos é de que a apreensão se torna mais difícil ainda, mas até quanto a isso eu não tenho tanta certeza. Mas falemos de PERDER A RAZÃO (2012), de Joachim Lafosse, filme que já vi há alguns meses e de um cineasta que eu nem sabia que existia até ver o maravilhoso A ECONOMIA DO AMOR (2016) e colocá-lo na minha lista de favoritos do ano passado.

PERDER A RAZÃO é um pouco mais problemático e bem menos sutil, mas é mais um filme que trata de uma família em crise. Mas em um registro mais próximo da tragédia. Enquanto A ECONOMIA DO AMOR vai nos matando aos poucos com a tensão dramática da vida daquele casal que na verdade já se separou mas que vive ainda em um mesmo teto, PERDER A RAZÃO mostra a degradação de uma família a partir da pressão psicológica sofrida por Murielle, a personagem de Émilie Dequenne (mais lembrada por ROSETTA, dos Irmãos Dardenne).

O tom trágico já se apresenta no prólogo que mostra o futuro da história, com a protagonista em uma cama de hospital falando sobre "enterrá-los no Marrocos". Enterrar quem? Essa pergunta até sai um pouco da memória quando o filme parte para o ponto de partida e já que o andamento da trama é suficientemente envolvente. Vemos o progressivo e rápido namoro e casamento de Murielle com o marroquino Mounir (Tahar Rahim, que esteve em papel de destaque em O PASSADO, de Asghar Farhadi). Logo eles começam a ter vários filhos desse casamento.

Eles passam a morar na casa do pai adotivo de Mounir, André Pinget (Niels Arestrup), um médico que combina generosidade com uma alta dose de manipulação emocional. A casa é dele e ele faz questão de que o casal more com eles. A presença de Pinget é bastante incômoda naquela casa e as coisas se complicam ainda mais para o casal com a depressão que passa a abater Murielle. Nisso, a atriz foi muito feliz em dar um tom de desespero que nos contagia.

Por mais perturbador que isso seja, não deixa de ser uma prova de que estamos diante de uma obra que incomoda e sufoca. Principalmente quando os personagens estão dentro da casa. Uma viagem para o Marrocos, por exemplo, já traz um pouco mais de estabilidade emocional para a personagem. É, certamente, o caso de ver outros filmes de Joachim Lafosse e conferir se estamos diante de um especialista em inferno domiciliar.

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